quinta-feira, 29 de agosto de 2013

HISTORINHAS DE GENTE GRANDE





Novo livro de PJ Ribeiro a ser lançado no dia 12 de setembro de 2013 - na Chácara D. Catarina - em Cataguases - MG. Vejam alguns comentários críticos antes mesmo do evento:

O SENTIDO DO NONSENSE DAS
HISTORINHAS DE GENTE GRANDE DE PJ RIBEIRO
As três Historinhas de gente grande componentes do novo livro de PJ Ribeiro estão muito além de se prestarem à leitura ingênua para deleite de adultos ou leitores infanto-juvenis remanescentes do público nonsense de Lewis Carroll ou Edward Lear.
Se Carroll cunhou neologismos em função de cores e sons, PJ Ribeiro, ao contrário, cria situações realistas, sob o cadiz humorístico, metafórico e paradoxal que abeira mesmo o absurdo, quase sempre deliciosamente incômodas, em que o nonsense, pelo excesso de sentido, remete o leitor a um confronto de verossimilhança com situações similares em seu cotidiano, por analogia ou por aproximação, uma vez já existir ideias cristalizadas predispostas na ideia mesma nonsense original.
Os desfechos das Historinhas desenvolvem significados de atitudes reflexivas em relação à linguagem de modo a tornar o nonsense palatável socialmente:
- em O cavalo amarelo, o Sol derretido no animal mamífero doméstico, remete a lendas, mitos, corcéis alados, donde ser até razoável a ideia de similitude, no desfecho, com o seu desaparecimento em função do surgimento do “primeiro balão no céu”. Há, implícita, uma associação com as cores velozes do cavalo, que “corria mais ainda com medo de perder sua cor primitiva!, com a ideia de o mesmo tornar-se um balão.
- em Rato-herói, um camundongo kafkiano do tipo espanta solidão e amigo, solidário e incrivelmente presente, capaz de pensar o que fazer para alegrar seu dono, mas não de ter uma linguagem capaz de se comunicar com ele numa linguagem inteligível entre ambos.
- em O homem, o gambá e a moça, além de metaforizar a bota do homem como uma tromba de elefante e surrealmente como “um passarinho com chapéu na cabeça”, ao depararem-se mutuamente, gambá e moça desmaiam, evocando, de imediato, a pergunta: por quê? Medo ou asco? Estranhamento ou nojo? O que, de qualquer modo, estabelece um absurdo, cuja reflexão, diria Jean Lecercle, seria, positivamente, no caso, “hostil à tradição da hermenêutica”, porque “os textos nonsense imitam as atitudes dos críticos literários e filósofos, somente de um modo excessivo e subversivo.”
O Cavalo amarelo, p.ex., tem início como uma afirmação, ao contrário da do tom ficcional de Era uma vez, de alguma coisa irreal ou realmente absurda, mas parte de um ser identificável por qualquer humano e em qualquer situação, uma vez não ser difícil se deparar, no mundo animal, com um cavalo amarelo. O que o torna inusitado é carregar “uma crina grená enrolada no pescoço”, de dar “um berro tão grande” que “espantava os outros bichos” (considerando que cavalo não berra) e o fato de que, de tão amarelo, “resplandecia”. Eis o que caracteriza, nessa Historinha de gente grande, a “claridade secreta” aludida por Cecília Meireles, o que causa o encantamento da perplexidade, o que institui a ludicidade.
Especialista no assunto, Myriam Ávila é axial em apontar que a especificidade do nonsense “reside em algo que deixa o leitor suspenso entre o riso e a perplexidade, entre a estranheza e a identificação, como se aquilo ao mesmo tempo lhe dissesse respeito e não dissesse respeito a coisa alguma”, uma vez que “é precisamente a ausência de um ponto de repouso, a instabilidade e a instauração da dúvida que constituem o núcleo do nonsense”, di-lo em seu imprescindível Rima e solução: a poesia nonsense de Lewis Carroll e Edward Lear (1996,pp.203/86).
As três Historinhas de gente grande de PJ Ribeiro remetem também à ilusão referencial aludida por Roland Barthes, quando este afirma (apud Compagnon em O demônio da teoria, 1999, p.117):
O realismo não é nunca senão um código de significação que procura fazer-se passar por natural, pontuando a narrativa de elementos que aparentemente lhe escapam: insignificantes, eles ocultam a onipresença do código, enganam o leitor sobre a autoridade do texto mimético, ou pedem sua cumplicidade para a figuração do mundo. A ilusão referencial, dissimulando a convenção e o arbitrário, é ainda um caso de naturalização do signo. Pois o referente não tem realidade, ele é produzido pela linguagem e não dado antes da linguagem.

            Em qualquer uma das Historinhas..., além de proeminentemente humanas, e de induzirem a imaginação leitoral a criar relações com a realidade de cada um em seu cotidiano de vivências – ainda, fique claro, que não seja esta a intenção precípua do autor, senão a de divertir, de oferecer material para a leitura em si mesma, esta, por sua vez, leva inexoravelmente à reflexão – existe, sim, o leitor poderá observar, a questão da verossimilhança como latente em seu conteúdo surpreendente motivador. Segundo Wellek e Warren (2003, p.269):
(...) a verossimilhança do pormenor é um meio de criar a ilusão, mas usa-se muitas vezes, como isca para conduzir o leitor a uma situação improvável ou incrível que encerra “verdade real” num outro sentido, mais profundo do que circunstancial. (...) a distinção não deve ser estabelecida entre realidade e ilusão, mas entre diferentes concepções da realidade, entre diferentes modos de ilusão.

            É preciso destacar as ilustrações de Altamir Soares, os efeitos plásticos de Natália Tinoco e o projeto editorial de Joaquim Branco como valores semiótico-visuais do livro.

Bibliografia básica

ALMEIDA, Nadja Karoliny Lucas de. Literatura e realidade: ensaio sobre Vocação Animal de Herberto Helder. Revista online de Literatura e Linguística Ano I – Nº 1 ( 416-424) – ISS 1982-6850
ÁVILA, Myriam. Rima e solução: a poesia nonsense de Lewis Carroll e Edward Lear. São Paulo: AnnaBlume, 1996.
COMPAGNON , Antoine. O demônio da teoria. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1999.
MAIA, Ana Filipa. Textos nonsense. Diglitmedia.blogtspot.com.br/2007_04_01_archive.html
MEIRELES, Cecília. Problemas da literatura infantil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
WELLEK, Rene e WARREN, Austin. Teoria da literatura e metodologia dos estudos literários. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

( Comentário de Márcio Almeira)





Carta de Rita Cabral a PJ Ribeiro.
Agosto, 2013


Oi, Pedro.


Arrisquei algumas observações sobre a sua inovadora obra, mas deve dizer que fui surpreendida e gostei especialmente da história O cavalo amarelo.

P. J. Ribeiro apresenta uma nova forma de fazer poesia acrescentando o elemento enigma prosa. O non-sense não é nem um pouco diferente das crônicas de Nárnia. Porém, nesta obra, os símbolos escondem a moral da história.

Embora o título já indique que não se trata de um livro infantil o leitor é levado a entendê-lo assim, seduzido pelo formato, pela ilustração e pelo papel utilizado na composição.

O leitor sabe que nas histórias feitas para gente pequena vai encontrar aventuras, tesouros, os desprezíveis vilões, ratos encantados, princesas, reis e finalmente, o final feliz com a lição para nunca mais esquecer.

Por outro lado, em historinhas de gente grande também encontramos a fantástica interação do homem com os animais, porém quase nunca o final é feliz. persistem as indagações e as inquietações humanas metamorfoseando em pulgas gigantes.

Este mundo é o mundo do poeta onde o cavalo tem o pescoço enfeitado pela echarpe grená e ganha e perde o dourado do sol.

Assim o leitor é instigado a pensar usando o seu próprio conhecimento para interpretar a obra.

Abro um parêntese par comentar a ilustração do livro. A cor forte é a característica marcante do trabalho do Altamir e, ao ilustrar este trabalho, nos lembra que o livro conta histórias para gente grande, mesclando os traços dos desenhos infantis.

Só me resta agradecer e parabenizá-lo por mais esse lindo presente que você nos dá.

Abraços.

Rita Cabral.







domingo, 12 de maio de 2013

COMENTÁRIO SOBRE O PINTINHO GAY - POR ROGÉRIO SALGADO




O Pintinho Gay: 
de P.J. Ribeiro



O escritor P.J. Ribeiro mostrou estar à frente de seu tempo ao escrever um livro revolucionário intitulado "O Pintinho Gay" (Edição do Autor). Trata-se de um livro infantil que abre com rara beleza poética, a percepção da criança para a falta de preconceitos e a compreensão para a diversidade. Conta a história de Dona Galinha, que entre outros pintinhos, teve um filhote com suas penas cor de rosa e atitudes mais delicadas. O livro ensina-nos, crianças e adultos a valorizar mais as qualidades do ser humano, do que sua feminilidade, por exemplo. Antes de tudo, trata-se uma fábula moderna, com uma forte inclusão social. 
Com capa, diagramação e efeitos visuais de Natália Tinoco; projeto editorial e gráfico de Joaquim Branco e desenhos de Maria Antônia Rodrigues, "O Pintinho Gay" é um livro recomendado para crianças dos sete aos setenta anos.





domingo, 10 de fevereiro de 2013

Folhetos Literários - 19


Tabu -  Frente e Verso

Folhetos Literários - 18

Mira 3 - Frente e Verso
























Mira 4 - Frente e Verso



Folhetos Literários - 17

Mira 1 - Frente e Verso





Mira 2 - Frente e Verso



Folhetos Literários - 16


Galera 1 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 15


Casa de Literatura - 16 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 14


Casa de Literatura - 15 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 13


Casa de Literatura - 14  - Frente e Verso

Folhetos Literários - 12


Casa de Literatura 13 - Frente e Verso

Folhetos Literários -11


Casa de Literatura 12 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 10


Casa de Literatura 11 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 9


Casa de Literatura 10 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 8


Casa de Literatura 9 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 7


Casa de Literatura 8 - Frente e Verso

Folhetos Literários - 6



Casa de Literatura 7 - Frente e Verso

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Folhetos Literários 2


Casa de Literatura 2 - Frente e Verso




Publicado na Revista "METRONOM" - Ago/1981 - Barcelona

Folhetos Literários



Casa de Literatura 1 - Frente e Verso

MINAS: VERSO & PROSA



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na terra


ele queria ver a santa terrinha a terra onde tinha nascido com aquela praça aquela outra praça com a fonte luminosa iluminando tudo a ponte parecia que ele tava em san franciso ah são francisco depois a avenida descendo por uma garganta que não acabava nunca os postos de gasolina alimentando os carros sujos de poeira ele sentia um vento frio o ônibus virando uma curva e um aperto na garganta pra chegada ele via tudo de novo os caras que ele tinha conhecido e tinham morrido os que estavam nascendo ele via tudo de novo o ônibus chegando as malas descendo o taxi parando ele falando onde é que era que ia ir o chofer perguntando como é que ele estava se tinha um bom emprego ele falando que ganhava muito bem mas que não era feliz o que ele queria era voltar pra terra onde tinha nascido o chofer dizendo que nada tinha mudado só que agora  havia um novo movimento literário na cidade que ele chofer não entendia nada mas que devia ser uma coisa boa que os jornais do país todo já tinham dado a notícia se ele sabia que o mundo sempre esteve de olho na sua terrinha.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Besouros, na pele das palavras



Apresentação de Besouros Falantes, feita por seu irmão Joaquim Branco, fevereiro 2003.



"No meio do mato besouros falantes emitem cochichos, formigam farelos de falas, confundem e misturam nexos.
Estes não são propriamente aqueles animaizinhos de asas noturnas e dura casca que, na ânsia da luz e dos holofotes, rodopiam até cair para ser esmagados por sapatos.
Seu misterioso ciclo de vida resume a metáfora do destino humano ou o capricho das sensações e a busca de um sentido para as coisas.
Os besouros que narram também pintam e bordam na construção de um texto sem paralelo e sem rodeios. Sua mágica entra na poesia e sai na prosa, e, quando se tornam líricos, já são épicos ou penetram no drama. Esses bichinhos ruminam sua fome de dentro da mente humana e dali se veem diante de uma sede que não sacia a mente. Ficam remoendo um grilo que o descuido deixou apanhar ou dormem sobre o remorso de horas tediosas.
São falantes porque o tempo todo falam e ouvem vozes que lhes ensinam coisas e eles as devolvem no seu besourar contínuo.
A maioria dos textos deste livro de PJ Ribeiro foi escrita na década de 1960, alguns na de 1970, poucos na virada do século. Mas todos trazem indelevelmente inscrita a marca da aventura com a linguagem, que faz do homem não o melhor mas o mais inquieto bicho da natureza."



Miniconto em destaque




A ÚLTIMA PALAVRA


A última palavra pode estar atrás da vidraça, dentro dos seios, por entre as portas, manilhas, ou bem mais adiante do que se vê.
Também pode ser que esteja na primeira, na sexta ou,então, na decima quinta voz a ser ouvida.
Mas, é sempre a palavra de ordem.
  
                                               ( In: Um terno tirado do fundo do armário. pág. 14 - 2009)